Portal R7: ‘Dor da endometriose parece mão torcendo o útero’, diz paciente

Acompanhe abaixo reportagem sobre Endometriose com a participação do Dr. Rogério Felizi:

Juliana Andrade, 24, conta como lida com a doença que afeta 20% das mulheres; nesta quarta-feira (8) é Dia Nacional da Luta Contra a Endometriose

Durante as crises de endometriose, a barriga de Juliana fica inchada

“Quando tenho crises da endometriose, geralmente fico dois dias acamada. A dor é pulsante. Parece que tem uma mão torcendo dentro do útero. Depois da crise, a sensação que fica no corpo é de mais dor por ter sentido tanta dor “, conta a jornalista Juliana Andrade, 24.

Juliana afirma que percebeu que havia algo errado quando, além de dores fortes, sentia muitas náuseas e ficava incapacitada até mesmo de comer. Ela teve o diagnóstico da doença aos 17 anos, cerca de um ano após a primeira menstruação. Ainda deve fazer exames complementares para saber a extensão da lesão.

 Nesta quarta-feira (8), é celebrado o Dia Nacional da Luta Contra a Endometriose. De acordo com o ginecologista Rogério Felizi, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, a endometriose é um problema que afeta cerca de 20% das mulheres em idade fértil, entre 15 e 40 anos.

Felizi afirma que os órgãos mais acometidos são os ovários, tubas uterinas, intestino, bexiga e a parte posterior do útero.

Entre os principais sintomas estão cólicas fortes desde jovem, com a piora gradual. “Geralmente, as mulheres que têm endometriose apresentam tanta cólica que precisam recorrer ao pronto-socorro para tomar medicamento na veia por conta da dor”, afirma Felizi. Além das cólicas, a paciente pode apresentar dores durante a relação sexual e distenção abdominal durante o ciclo menstrual.

No caso da jornalista, houve inchaço abdominal com endurecimento da barriga, diarreia, dores intensas, pernas inchadas, dor no corpo, náuseas, falta de apetite, fluxo instenso e fraqueza. “Isso afetou minha vida de maneira que eu perco muito tempo por conta da menstruação”, afirma Juliana.

Felizi afirma que um dos principais problemas da endometriose é a demora no diagnóstico. “Muitas meninas passam anos tomando analgésicos achando que é normal sentir dor, sem suspeitar de que pode ser endometriose, e demoram para receber o diagnóstico”, afirma.

O diagnóstico é feito por meio de dois exames de imagem — a ressonância magnética da pelve com preparo, para mapeamento de endometriose, e o ultrassom transvaginal, com preparo para mapeamento de endometriose. Porém, caso haja suspeita da doença, o tratamento já é iniciado.

O ginecologista afirma que os métodos de tratamento se dão pelo grau de comprometimento e pelas dores da endometriose. Para controle da dor, são utilizados medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios.

Já o controle dos sintomas e a estabilização do problema podem ser feitos com anticoncepcionais orais ou com o DIU (dispositivo intrauterino) de progesterona. Com esse método, é possível reduzir a velocidade com a qual o problema evolui.

Ao receber o diagnóstico, Juliana fez tratamento com anticoncepcionais. Porém, devido ao histórico familiar de trombose, teve de parar e está buscando aconselhamento médico para o tratamento mais adequado para seu caso.

Em casos mais graves, nos quais os tratamentos clínico e medicamentoso não fazem efeito, pode ser necessária a realização de cirurgia para a retirada das lesões provocadas pela endometriose. “A cirurgia é feita da maneira mais conservadora possível, preservando os tecidos saudáveis para que a mulher ainda possa engravidar”, afirma o ginecologista.

Casos gravíssimos, em que ocorrem sangramentos intensos, hemorragias e dores sem melhora, podem necessitar da remoção do útero ou das tubas uterinas.

Nesses casos, os médicos devem levar em consideração o desejo da mulher de engravidar. A retirada desses órgãos, geralmente, só é feita após a mulher já ter tido filho e apenas pode ser optado após outros métodos terem se mostrado ineficazes.

Para evitar a retirada de útero, além do uso do DIU de progesterona, o ginecologista afirma que pode ser utilizado um medicamento denominado “análogo do GnRH”. Esse medicamento bloqueia a secreção de hormônios, provocando uma menopausa temporária na mulher. Porém, Felizi afirma que o tempo máximo de uso dessa medicação é de um ano, já que seu uso prolongado pode causar prejuízos aos ossos.

Felizi afirma que, nos últimos 20 anos, a endometriose se tornou um problema mais complexo. “Antes, as mulheres engravidavam mais e menstruavam menos, e hoje, elas demoram mais para engravidar, passando mais tempo menstruadas, tendo mais casos de endometriose”, afirma.

Para lidar com as dores, Juliana faz compressas quentes na região inchada e dolorida e repouso e procurou maneiras naturais para aliviar a dor. “Eu mudei minha alimentação, então evito alimentos inflamatórios, como gordura e chocolate. Passei também a beber mais água e a praticar exercícios. Depois dessas mudanças, já percebi uma melhora na dor, mas estou à procura de um tratamento médico”, afirma.

  • Reportagem de Giovanna Borielo, Estagiária do R7 sob supervisão de Deborah Giannini